As
obras de Nilva Rossi pedem uma contemplação atenta e silenciosa. Essa
contemplação é necessária para a completa fruição de detalhes que a artista,
consciente ou inconscientemente, nos apresenta. Dessa forma, é possível
perceber várias camadas de matéria que a artista aplicou sobre as telas. Assim,
ela nos apresenta primeiramente um processo,
palavra que usamos no sentido de ação, sequência ou método. Nessa sequência de
operações artísticas, percebemos camadas de crayon, grafite, tinta, giz para
quadro negro, carvão, etc. Nilva enfatiza, nesse caso, a possibilidade imanente
da arte, ou seja, a possibilidade da arte como experiência contínua com vários
suportes e materiais. A artista procurou experimentar tudo, pois segundo suas
palavras, “a arte permite uma busca constante, já que só a vida não
basta”. Por isto, seu processo criativo
é “agradável” (segundo ainda seu relato), mas podemos chamá-lo, ao mesmo tempo,
de catártico, com a arte servindo como antídoto contra as dificuldades da vida.
A arte, então, possuiria um efeito purificador ou mesmo libertário. Esta
palavra, “purificação”, é cara à artista, como veremos. Talvez estas questões
tenham despertado na artista a vontade de chamar esta série de Mutações, palavra que lembra mudança,
alteração, modificação. O elemento-chave que provoca mutações é a água. No processo
de criação de Nilva Rossi, portanto, a água e o acaso possuem papeis
fundamentais. Desse modo, em seu trabalho, a água é preponderante e tem um
duplo objetivo: artístico e simbólico. Ao misturar-se com outros materiais,
como o carvão, por exemplo, faz surgir imagens que provocam surpresas dignas de
atenção. A quantidade de água, controlada ou aleatória, faz aflorar as imagens.
Daí o acaso. A água ainda permite à artista pesquisar a consistência dos
materiais. Quando ela seca, as marcas transparentes possibilitam a percepção
das inúmeras camadas trabalhadas pela artista.
Assim,
a água é o amálgama que permite à artista juntar todos os elementos simbólicos
que surgem aos nossos olhos. A água tem um papel purificador, “como se lavasse
minha alma”, diz a artista. As cores que surgem “parecem explosões vulcânicas”,
ainda segundo a artista. Esse processo sem fim (no qual temos a impressão de
ter sido difícil para a artista pôr um ponto final), afirma o caráter catártico
que percebemos nesta série. O trabalho de Nilva é surpreendentemente catártico
e lúdico, ao mesmo tempo. Por isso, deve ter sido “agradável” para a artista
criar essa série de obras.
Entretanto, para além
de todos estes aspectos analisados, nem tudo está limitado à quantidade de
matéria que se estende sobre as telas, nem à sobreposição quase infinita dessa
mesma matéria. Nilva Rossi deixa, propositadamente, partes em branco, como aberturas
ou portas. Esta metáfora é ainda mais potente, pois nos remete a espaços
livres, desprotegidos, desnudos. A artista talvez queira mostrar que sua obra é
uma “obra aberta”, que nos convida a entrar.
João
Coviello.
Local: MUSEU ALFREDO ANDERSEN-R:MATEUS LEME,336-CURITIBA/PR
Local: MUSEU ALFREDO ANDERSEN-R:MATEUS LEME,336-CURITIBA/PR
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